sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Girassóis da Rússia - 1970



Com um estilo próprio, o cineasta italiano Vittorio De Sica, dirige este memorável filme que narra a saga de uma mulher apaixonada em busca do marido desaparecido no front durante a Segunda Guerra Mundial. De Sica (Duas Mulheres, de 1960) gosta de retratar os dramas da vida sem maquiagem e dar um tom real a quase todas as tomadas – não reveste o personagem daquele heroísmo que desperta no público a sensação de aparente imortalidade.


O drama é aberto com imagens de girassóis e ao som da marcante trilha sonora de Henri Macini, que propiciam um clima de renascimento e esperança, mesmo depois das cinzas da guerra e suas irreparáveis perdas. É neste ambiente que Giovanna (Sophia Loren - El Cid, de 1961) deixa a bela Itália e sai em busca de Antonio (Marcello Mastroianni - A Doce Vida, 1960) que oficialmente é dado como perdido (morto) nos campos da Rússia. Ela não cansa de repetir: “Ele está vivo”. E está. Na esperança de encontrá-lo, percorre belíssimas plantações de girassóis, que com suas flores amarelas cobrem o outrora campo de batalha, trazendo a superação da morte e unindo seres humanos que no passado se digladiaram.

Antonio foi salvo – estava ferido e congelando - por uma camponesa russa; justo ele, que era italiano e inimigo dos russos. A tragédia da guerra os une e passam viver como marido e mulher em uma pequena vila. O casal tem uma filha chamada Katya que em sua inocência desmorona o castelo de Giovanna, quando esta enfim chega ao lar onde vive o tão buscado marido e escuta a pequena dizer: Buongiorno! Não precisava ouvir mais nada – o pai, sem dúvida, a ensinara. Uma mulher sente quando tudo está perdido. O reencontro com Antonio é constrangedor, pois sua atual mulher Masha (Ludmila Savelyeva) o espera e quando ele desce do trem tenta beijá-la, mas é rejeitado; logo adiante está aquela que atravessou fronteiras em nome de um amor que acreditava perdurar no tempo. Os olhares se cruzam e aí já era tarde demais para um recomeço. Havia outra entre eles.

O amor de Giovanna foi posto à prova e ela não nos decepcionou. Aqui está a diferença de sentimentos – a mulher nasceu para o amor único e verdadeiro e o homem não necessariamente. É minha opinião e o filme me faz refletir sobre este ponto, sobretudo, quando Antonio não volta para sua mulher, mesmo tendo o caminho livre. Por que não voltou? O que falou mais alto? Talvez não a amasse ou acomodou-se diante das circunstâncias. Os homens sempre encontram justificativas para suas fraquezas e covardias amorosas.

Decepcionada, a bela Giovanna retorna para seu país e termina por encontrar um companheiro para tentar preencher o vazio deixado pela perda do amado que ficou em terras estranhas. Sabemos e sentimos que ela jamais irá esquecê-lo, viverá para sempre das lembranças de um sentimento que acreditou e que se deu de corpo e alma. A razão a impede de sair em uma nova cruzada, pois ao receber em sua casa a visita de seu ex-marido recusa um convite para acompanhá-lo, quando diz: “... Tenho um filho ali dentro. E sua filinha?... Não podemos esquecê-los.”. A despedida na estação é marcada mais uma vez por um olhar distante; distância que o homem desejado não foi capaz de superar.

Os Girassóis da Rússia é uma elegia ao amor; um tributo aos amantes da sétima arte e um filme para jamais ser esquecido. Uma reflexão sobre os verdadeiros valores da vida a dois, dentre eles um dos mais sublimes: o juramento perante o altar ou qualquer outro lugar. Promessa esta quebrada por Antonio. “O que restou do nosso amor ficou... No tempo esquecido por você...”.

Por Walter Silva Pinto Filho

2 comentários:

  1. WALTER, Seu negocio e cinema, mesmo! poucas vezes vi uma critica bem feita e inspirada como esta, embora considero mais uma cronica filosofica que explica como tudo nao funciona...

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  2. Assisti com meu pai, lindo filme...

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